14 de agosto de 2008

Balanço do Encontro Nacional de Estudantes

O DCE da UNESP/FATEC através dessa nota vem deixar público seu balanço político do Encontro Nacional de Estudantes realizado no dia 2 de julho, em Betim, Minas Gerais.

Na nossa avaliação foi positiva nossa iniciativa em assinar a convocatória do Encontro, pois mostrou toda nossa disposição em apoiar experiências que visam a unificação do movimento estudantil (ME) combativo e antigovernista. Repudiamos qualquer tipo de política abstencionista e sectária, por isso assinamos a convocatória e lançamos uma carta no qual defendíamos um encontro nacional onde os estudantes realmente pudessem, a partir de um verdadeiro balanço das lutas do ano passado, com suas fortalezas e debilidades, deliberar um programa combativo para o ME e que não se limitasse aos acordos de correntes políticas pelas costas da massa estudantil, como vinha ocorrendo com as reuniões da Frente Contra a Reforma Universitária, mas que respondesse aos problemas democráticos mais sentidos pelos estudantes e principalmente pelos trabalhadores que estão fora das universidades, questionando a fundo a estrutura da universidade como ela é hoje.

Todavia, o encontro não expressou um programa combativo que armasse o ME de radicalidade de conteúdo político e avançasse na aliança com a classe trabalhadora, elementos fundamentais para derrotar os planos do governo e construir de fato uma universidade pública, gratuita, de qualidade e para todos que esteja à serviço dos trabalhadores e dos oprimidos.

Infelizmente o setor majoritário do encontro - PSTU - que representava cerca de 70% dos presentes imprimiu uma política ao encontro que mais uma vez fez com que perdêssemos uma chance de avançar nas lutas e alcançar de fato vitórias.

Queremos discutir os principais pontos que temos desacordo e que achamos cruciais discutir com o conjunto dos estudantes.

Deficiência em se ligar com a classe trabalhadora

O governo Lula alcança no atual momento um dos maiores índices de popularidade junto à classe trabalhadora brasileira e é um dos mais populares na América Latina. Foi se apoiando em setores de massas que ele passou grande parte dos ataques à educação nos últimos anos. De que forma? Combinando grandes ataques (avanço da mercantilização e do projeto neoliberal pra educação) com pequenas concessões (pequeno aumento de vagas). Sendo hoje a demanda pelo ensino superior uma reivindicação de grande parte da população, essas pequenas concessões combinadas com um trabalho consciente e sistemático da grande mídia fizeram com que o movimento estudantil ficasse isolado da população, tachado de corporativista; a luta estudantil no último período passou longe de qualquer relação orgânica ou apoio de setores expressivos da classe trabalhadora e do povo pobre.

Na nossa concepção o ME só terá força para derrubar os ataques dos governos estaduais e federal se conseguir se aliar aos milhões de trabalhadores do campo e da cidade. Exemplos como a greve das estaduais paulistas e as ocupações nas federais mostram que quando o ME não se liga ao conjunto da população trabalhadora e pobre, não alcança mais do que vitórias parciais ou derrotas. Porém, para realmente construir a aliança operária estudantil não basta somente palavras de ordem, mas sim que o ME levante um programa que mostre à classe trabalhadora que realmente estamos dispostos a lutar para que todos tenham o mínimo direito democrático de cursar uma universidade pública. O encontro nacional, pela política do PSTU, votou que o principal fator de mobilização para o próximo período seja a campanha contra o REUNI. Para além da questão de não respeitar as especificidades de cada universidade e mostrar que não tem programa para as universidades particulares, mais uma vez cometeu-se o erro grotesco de não apresentar um programa pela positiva que vise acabar com o elitismo da universidade pública. Ao que parece mais uma vez o ME, pela política dos setores já citados, vai se isolar e não alcançar vitórias nas suas lutas.

O governo só tem a agradecer aos setores que dizem que tudo foi vitorioso, pois em última instância, esconde dos estudantes que os ataques continuam e também não ajuda nenhum pouco que nos preparemos para as próximas lutas.

Nesse sentido, nós do DCE da UNESP/FATEC reafirmamos nossa posição de construir uma grande campanha, em conjunto com o movimento operário, pela estatização das universidades privadas como única maneira de garantir acesso a todos ao ensino superior. Para nós é a partir de iniciativas como essa que podemos chamar os trabalhadores e o povo pobre a lutar conjuntamente conosco e quebrar dessa forma o isolamento do ME e aí sim ter força suficiente para barrar o REUNI e outros ataques.

É importante lembrar também que a apatia em relação a importantes lutas da classe trabalhadora , como a exemplar luta dos trabalhadores terceirizados da REVAP, demonstra ainda mais a posição do setor majoritário em não construir de fato a aliança operária- estudantil. Não foi discutido nada de concreto que o ME pudesse fazer para auxiliar nas lutas operárias em curso, como, por exemplo, ajudar com um fundo de greve.

Negativa ao debate teórico

Sem dúvida alguma o movimento estudantil desde o ano passado se lançou a importantes lutas contra medidas que visam privatizar e precarizar o ensino público e também contra casos de corrupção como foi na Unb. Esse ME inclusive alcançou uma importante radicalização nos métodos de luta, lançando mão de ocupações de reitorias. Infelizmente esse mesmo movimento estudantil que radicalizou nos métodos não se radicalizou de conteúdo político. Na Unb, por exemplo, grande parte dos ocupantes acabou confiando em figuras carimbadas de partidos burgueses como Cristóvão Buarque do PDT e Suplicy do PT e depois aceitando como reitor um ex-secretario da segurança do Rio de Janeiro que esteve a frente da polícia que mais mata no mundo.

Como via de avançar na politização do ME foi discutida a necessidade de que o encontro votasse a realização, através das entidades que o impulsionavam, de cursos livres de Marxismos nas universidades. Ainda que essa proposta foi aprovada em bloco foi realmente surpreendente que um partido de esquerda e marxista, como o PSTU, tenha se colocado nos Grupos de discussão do Encontro contra essa iniciativa, pois considera que discutir marxismo com os estudantes do ME seria muito avançado, e que o correto era priorizar lutas pontuais e sindicais como a campanha contra o REUNI. Achamos essa posição equivocada, pois para nós os estudantes devem estar armados de muita teoria para de fato conseguirem lograr vitórias. Sem que o conjunto dos estudantes arme-se teoricamente pra aprofundar sua análise, não enfrentaremos os tortuosos obstáculos que estão postos na luta contra os projetos neoliberais de conjunto pra educação brasileira, sendo o REUNI parte destes. Os estudantes combativos do ME não podem permitir que essa proposta aprovada seja transformada em “papel molhado” e devem pressionar para que a Conlute e a Conlutas utilizem sua estrutura para levar esses cursos a cabo.

O ME e a questão da polícia

O movimento estudantil não pode de modo algum se furtar do debate que vem sendo feito a cerca do apoio às greves da polícia e a possibilidade de que sindicatos de policiais possam se filiar à CONLUTAS. Por isso queremos assinalar aqui o que foi discutido na última reunião do DCE da UNESP/FATEC.

Nessa discussão é importante que resgatemos o papel da polícia, que longe de trabalhadores da segurança pública, é o principal instrumento com o qual a burguesia defende a propriedade privada, ou seja, a polícia, enquanto instituição, é um empecilho direto para que a classe trabalhadora cumpra sua tarefa histórica de acabar com a propriedade privada, por tanto, como fazemos nossa opção pela classe trabalhadora, não podemos mais do que defender a dissolução da polícia. Achamos que posições mecânicas e desvios teóricos são motivos que levam companheiros a acreditar que em algum momento na história a polícia cumpriu um papel progressivo. Erros teóricos e imprecisões históricas podem protagonizar tristes cenas, como por exemplo, centenas de estudantes provenientes da elitista universidade pública comemorando no encontro nacional de estudantes o fato de que foi aprovado apoio a greve da polícia que diariamente assassina a juventude negra nas periferias. A Polícia brasileira recentemente foi denunciada pela própria ONU como a mais violenta do mundo. O ano passado a polícia do Rio de janeiro matou quase 700 pessoas apenas no primeiro semestre, a maioria jovens negros.

Nós defendemos a retirada da polícia de todas as universidades brasileiras, mas também exigimos a retirada da polícia dos morros e dos bairros operários. Assim como sempre buscamos a unidade com a classe trabalhadora e o povo pobre em todas as nossas lutas, não podemos de maneira alguma defender aqueles que cotidianamente os assassinam. Não apoiaremos greves cuja pauta de reivindicação são melhores condições de trabalho, ou seja, mais cassetetes, balas, armas para exterminar a juventude pobre e negra.

Por isso não podemos mais que denunciar a posição do setor majoritário do encontro e da CONLUTAS – PSTU- que não só apóiam a greve dos policiais como também defendem e aprovaram que os cães de guarda da burguesia estejam juntamente com a vanguarda dos trabalhadores que estão organizados na CONLUTAS.

Lutar pelo ME combativo, antiburocrático e aliado aos trabalhadores.

É por toda essa política que foi aprovada e também por tratar como secundário e inclusive de maneira separada(!) o movimento estudantil das particulares, aonde estão milhares de jovens trabalhadores o Encontro não serviu para armar de maneira integral o ME para os próximos embates. Se não superarmos essas debilidades mais uma vez seremos derrotados.

Não queremos colocar aqui uma discussão sectária e justamente por isso chamamos todos os estudantes para que levem a frente e exijam das suas entidades duas medidas importantes que foram aprovadas no ENE. A primeira diz respeito a semana contra a repressão, luta essa que é de extrema importância haja visto o grande número de estudantes e trabalhadores que estão sendo vítimas de perseguição depois das lutas.

O outro ponto diz respeito a posição do ENE em defender a independência política dos trabalhadores, ajudando-os a superar os governos e as oposições burguesas, mesmo aqueles governos com retórica progressista como o de Hugo Chavéz.

Nós do DCE da UNESP/FATEC que tem sua diretoria composta por estudantes eleitos em assembléias de base e mandatos revogáveis colocaremos todo nosso empenho para auxiliar na construção de um ME combativo, antiburocrático e que lute por uma universidade a serviço dos trabalhadores.

Diretório Central dos Estudantes da UNESP e da FATEC

São Paulo, 27 de Julho de 2008.